Sair da
caixa?
Por Alê
Barello
Estamos
numa época de violência. Nos moveram a isso.
Não é
possível que esperem que continuemos nos comportando, socialmente, da mesma
forma que sempre, se por outro lado, as regras do poder mudaram, para muito
pior. Se eles perderam a noção do significado de governar, parece que podemos
perder a ideia de sermos governados.
A frase
“… somos um povo pacato” foi ampliada para: “… enquanto não apertam demais
nosso calo”.
Há
indícios de que poderemos, num futuro bem próximo, trocar o tempo do verbo.
“Fomos” pacatos; agora, somos o quê?
É preciso
cuidado para responder. Não que a mudança de inerte para ativo, de conciliador
para provocador, de conformado para questionador seja ruim. Não é disso que se
trata, mas da direção que damos para esses novos impulsos, que muitos de nós sequer conhecem.
Um dia
você acorda e começa a ouvir e compreender as notícias e informações à sua
volta. Percebe que há um “jogo” por trás de tudo. Que muito do que lhe é
contado não passa de manipulação; que o plano tão maravilhoso de determinado
governante, nada mais era do que um doce colocado na sua boca para que você
repetisse o voto, quando necessário; que não era desconto, era preço maior
embutido na mercadoria; que o plano da operadora x é exatamente igual ao que
lhe fizeram desistir para que comprasse um novo; que na comida que você dá para
seus filhos há venenos e que na água que você consome colocam lítio, a mesma
substância química usada para controle de patologias mentais, tais como
bipolaridade. Você vai até a garrafa e coloca os óculos para ler a composição…
Você olha para a vida ao redor e resolve ler as
letras pequenas…
Então,
acontece uma piada de mal gosto, caso não preste atenção à direção de sua
pulsão, que é um termo usado para designar o impulso energético interno que
direciona o comportamento do indivíduo.
Ao invés
de pensarmos em soluções, nosso impulso pode ser o de repetir o comportamento
que não queremos para nós.
E
começamos com transgressões infantis, raivosas, pequenas, que se avolumam.
“O ônibus
não anda em sua faixa e eu posso, assim, trafegar pelo acostamento; tanto faz
por qual lado desço a escada, que os outros desviem; ele está de carro, ele que
pare, sou pedestre, estando, ou não, na faixa! Os sinais estão desregulados,
amarelo não serve para mais nada, nem paro; a prefeitura não faz o trabalho
dela, por que eu vou me preocupar em jogar o lixo no lugar certo? Economizar
água? Que nada, vou é lavar tudo o que está sujo, antes que ela acabe!
Refrigerante faz mal, mas as frutas têm muito agrotóxico, então nem adianta
tomar suco, vou é me entupir de guaraná! Se é para morrer mesmo…”
Seja com
você, seja com seu igual, a repetição do comportamento negado torna-se um fato
na sua existência, porque estamos no terreno da REAÇÃO.
REagir:
agir NOVAMENTE
Estima-se
que um ser humano em condições normais tenha, diariamente, uma média de 70 mil
pensamentos. Quantos viram impulso e quantos são avaliados sem entrarmos no
terreno da reação?
Existe
uma parte do nosso cérebro que cuida de impulsos muito particulares, ligados à
sobrevivência. Eles incluem dominância (dominar ou ser dominado), agressão
sexual na busca um companheiro, rigidez, obsessão, compulsão, adoração , medo,
submissão e ganância. Parece uma caixa com uma etiqueta: MINHA SOMBRA. Não:
tudo isso é o que, primariamente, mantém a vida do animal puramente biológico
que somos.
Mas
espere… estamos falando de sociedade humana organizada… nela não tem espaço
para um animal puramente biológico, regulado para viver e procriar.
Todo o
sentido moral, espiritual, filosófico, educacional, legal, cultural e
finalmente social que demos às civilizações que se sucederam, nos leva a
imaginar que, pelo menos, gostaríamos de sair dos limites da sobrevivência e
passar ao terreno da vivência, ou quem sabe da supervivência, termo que venho
empregando no sentido de existirmos com a máxima qualidade possível, interna e
externa.
Não tem
molde, modelo, guia ou livrinho de instruções que nos leve a isso,
principalmente porque, a solução não estaria no conhecido, muito menos no
confortável.
É de um
terceiro caminho que precisamos para que não entremos mais na reação, nem
fiquemos na inação e claro que isso não é “agir”, porque tanto para REagir,
quanto para Inagir, estamos agindo!
O que
mais tenho ouvido, ultimamente, de pessoas, empresas, escolas, jornais e grupos
é a vontade de “sair da caixa”.
Entendo a
ideia fundamental, mas não sei se a maioria percebeu, conscientemente, que a
caixa está em nosso cérebro. Não é “lá fora” e nem estamos engessados num
“sistema” — coisa que virou para o
discurso social algo parecido com o que os médicos chamam de “virose”, ou seja:
não sei o que é exatamente, mas gera consequência e então generalizo.
É dentro
de seu cérebro físico que existe um gatilho de sobrevivência. Através dele, os
pensamentos repetitivos te levam a REagir. No final, você repete o que nega e
resiste a uma solução verdadeira.
Você até
pode se imaginar “saindo da caixa”, mas se não compreender que a caixa está
dentro de você, nada disso faz sentido.
Talvez,
essa seja uma noção muito distorcida que querem nos passar, propositadamente…
Algo completamente impossível de se fazer e sabem disso. E sabendo, aguardam
que tentemos e tentando, perderemos o foco do que é muito importante:
Não é
você que tem que sair da caixa;
é a caixa
que tem que sair de você.