domingo, 16 de março de 2014

Sair da caixa?

Por Alê Barello

Estamos numa época de violência. Nos moveram a isso.

Não é possível que esperem que continuemos nos comportando, socialmente, da mesma forma que sempre, se por outro lado, as regras do poder mudaram, para muito pior. Se eles perderam a noção do significado de governar, parece que podemos perder a ideia de sermos governados.

A frase “… somos um povo pacato” foi ampliada para: “… enquanto não apertam demais nosso calo”.

Há indícios de que poderemos, num futuro bem próximo, trocar o tempo do verbo. “Fomos” pacatos; agora, somos o quê?

É preciso cuidado para responder. Não que a mudança de inerte para ativo, de conciliador para provocador, de conformado para questionador seja ruim. Não é disso que se trata, mas da direção que damos para esses novos impulsos, que muitos de nós  sequer conhecem.

Um dia você acorda e começa a ouvir e compreender as notícias e informações à sua volta. Percebe que há um “jogo” por trás de tudo. Que muito do que lhe é contado não passa de manipulação; que o plano tão maravilhoso de determinado governante, nada mais era do que um doce colocado na sua boca para que você repetisse o voto, quando necessário; que não era desconto, era preço maior embutido na mercadoria; que o plano da operadora x é exatamente igual ao que lhe fizeram desistir para que comprasse um novo; que na comida que você dá para seus filhos há venenos e que na água que você consome colocam lítio, a mesma substância química usada para controle de patologias mentais, tais como bipolaridade. Você vai até a garrafa e coloca os óculos para ler a composição…

Você  olha para a vida ao redor e resolve ler as letras pequenas…

Então, acontece uma piada de mal gosto, caso não preste atenção à direção de sua pulsão, que é um termo usado para designar o impulso energético interno que direciona o comportamento do indivíduo.

Ao invés de pensarmos em soluções, nosso impulso pode ser o de repetir o comportamento que não queremos para nós.

E começamos com transgressões infantis, raivosas, pequenas, que se avolumam.

“O ônibus não anda em sua faixa e eu posso, assim, trafegar pelo acostamento; tanto faz por qual lado desço a escada, que os outros desviem; ele está de carro, ele que pare, sou pedestre, estando, ou não, na faixa! Os sinais estão desregulados, amarelo não serve para mais nada, nem paro; a prefeitura não faz o trabalho dela, por que eu vou me preocupar em jogar o lixo no lugar certo? Economizar água? Que nada, vou é lavar tudo o que está sujo, antes que ela acabe! Refrigerante faz mal, mas as frutas têm muito agrotóxico, então nem adianta tomar suco, vou é me entupir de guaraná! Se é para morrer mesmo…”

Seja com você, seja com seu igual, a repetição do comportamento negado torna-se um fato na sua existência, porque estamos no terreno da REAÇÃO.

REagir: agir NOVAMENTE
Estima-se que um ser humano em condições normais tenha, diariamente, uma média de 70 mil pensamentos. Quantos viram impulso e quantos são avaliados sem entrarmos no terreno da reação?

Existe uma parte do nosso cérebro que cuida de impulsos muito particulares, ligados à sobrevivência. Eles incluem dominância (dominar ou ser dominado), agressão sexual na busca um companheiro, rigidez, obsessão, compulsão, adoração , medo, submissão e ganância. Parece uma caixa com uma etiqueta: MINHA SOMBRA. Não: tudo isso é o que, primariamente, mantém a vida do animal puramente biológico que somos.

Mas espere… estamos falando de sociedade humana organizada… nela não tem espaço para um animal puramente biológico, regulado para viver e procriar.

Todo o sentido moral, espiritual, filosófico, educacional, legal, cultural e finalmente social que demos às civilizações que se sucederam, nos leva a imaginar que, pelo menos, gostaríamos de sair dos limites da sobrevivência e passar ao terreno da vivência, ou quem sabe da supervivência, termo que venho empregando no sentido de existirmos com a máxima qualidade possível, interna e externa.

Não tem molde, modelo, guia ou livrinho de instruções que nos leve a isso, principalmente porque, a solução não estaria no conhecido, muito menos no confortável.

É de um terceiro caminho que precisamos para que não entremos mais na reação, nem fiquemos na inação e claro que isso não é “agir”, porque tanto para REagir, quanto para Inagir, estamos agindo!

O que mais tenho ouvido, ultimamente, de pessoas, empresas, escolas, jornais e grupos é a vontade de “sair da caixa”.

Entendo a ideia fundamental, mas não sei se a maioria percebeu, conscientemente, que a caixa está em nosso cérebro. Não é “lá fora” e nem estamos engessados num “sistema”  — coisa que virou para o discurso social algo parecido com o que os médicos chamam de “virose”, ou seja: não sei o que é exatamente, mas gera consequência e então generalizo.

É dentro de seu cérebro físico que existe um gatilho de sobrevivência. Através dele, os pensamentos repetitivos te levam a REagir. No final, você repete o que nega e resiste a uma solução verdadeira.

Você até pode se imaginar “saindo da caixa”, mas se não compreender que a caixa está dentro de você, nada disso faz sentido.

Talvez, essa seja uma noção muito distorcida que querem nos passar, propositadamente… Algo completamente impossível de se fazer e sabem disso. E sabendo, aguardam que tentemos e tentando, perderemos o foco do que é muito importante:

Não é você que tem que sair da caixa;

é a caixa que tem que sair de você.

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